quinta-feira, agosto 31

Fumo

Vais. Vens. Estás…
Cortina de fumo que envolve minha razão,
Névoa que flutua em meus delírios.
E os eleva, sacode e afugenta.

Fumo de fósforo,
Subtil, ligeiro, translúcido,
Que apenas criado se perde num sopro,
De forma carente, tamanho e cor.
De contornos dispersados,
Pensamentos evasivos,
Desejos espantados.

Discreto fumo de fogueira nocturna,
Que cobiçado pela luz da sua chama,
Vagueia aquecendo a bruma,
Até se misturar com o ar que respiro,
Para deixar rasto em meus pulmões.
Fumo transitório, passageiro,
Desvanecido perante a luz do dia.

Fumo que queima restolho, palha seca e trapos velhos.
Desmedido, singular pelo seu odor,
Envolvente na sua espessura.
Fumo inevitável e previsível,
Hipóteses de uma nova estação.

O contaminante fumo da industria,
Crescido, enroscado,
Qual larva em estado latente.
Perturbador, ameaçador lá no alto.
Poderosa coluna densa e opaca,
Partindo em dois a paisagem,
Enegrecendo um pedaço,
Para ressaltar o azul do céu.

Fumo daninho que anseio respirar,
Como adito convicto ao tabaco que nunca fumei.
Angustioso, asfixiante,
Inextinguível fumo que flutua,
Que está, que vem e que vai…

Maldito fumo que se estanca na garganta,
Molesto, cobrindo-me os olhos,
Absorvendo lágrimas que escorrem,
Incapazes de sufocar este incêndio provocado.
O fumo que anuncia cinzas,
O que dança entre brasas inertes,
Até que o dispersa a brisa.
O que desliza por entre ramos queimados,
Consumidos, devorados…

Fumo…
Vapor aromático que se introduz na minha pele,
Complemento etéreo que decora minha alma.

terça-feira, agosto 29

O que é a Poesia?

Definir "Poesia" é uma tarefa que pode ser tentada de incontáveis formas e perspectivas.
Para todos que já tiveram a experiência viva de ler e escrever poesia, não é difícil compreender muitas das definições existentes (por mais diferentes que elas sejam em seus fundamentos) e (apesar de todas essas diferenças) "encaixar" as múltiplas visões e torná-las até complementares entre si.
Existem é claro alguns genuínos conflitos sobre a natureza e o propósito da Poesia, mas esses, em minha opinião, podem ser atribuídos mais a correntes, escolas, épocas e modismos, que a diferenças entre as diversas perspectivas pelas quais se pode tentar uma compreensão abrangente do tema.
Por outro lado, para quem nunca teve a vivência prática da poesia, muitas das definições podem parecer assunto quase místico; e a idéia de "Poesia", algo tão impalpável que deveria ser objeto da Metafísica e não de qualquer ciência da linguagem, da arte ou da comunicação.
André Masini
Definir a Poesia? Humm!?!?...Não se consegue...é como tentar explicar uma cor a um cego que nunca teve a visão na sua vida. Sobre a poesia genericamente não sabemos mais do que divagar ou expressar as nossas muito limitadas preferências quando nos referimos apenas ao muito significado que nos é dado a aprender. “A poesia está onde está”, mas é uma filha humilde ou angelical das mudanças da vida e das categorias que vamos estabelecendo, embora completamente no vértice dos tempos.
A Poesia é dar voz à alma, explicar em simples palavras o inexplicável, colocar um sorriso na tristeza e um som no esquecimento. A poesia é a forma de falar em silencio e amar em apenas uma melodia. É o eco interno dos sentimentos, capturados em símbolos concretos a que chamamos palavras! Palavras colmadas de emoções, para a alma!
Dizem que os poetas são loucos, sem vida,
Dizem que são apenas palavras e paixão,
Mas o que sabe essa gente?
Se capturarmos a vida,
Em letras de lamentos,
Em letras de dor.

Dizem que os poetas emanam poesia,
Mas a poesia não nasceria,
Se não existisse o desejo…a dor.
A poesia é o caminho,
Em que se comunica,
Em versos a palavras,
Em versos o amor.

Dizem que são apenas letras,
Compostas sem sentido,
Mas somos sonhadores…
Diante o frio sol,
Despertamos de noite,
Dormimos de dia,
Quando entre tinta e letra,
Começamos a voar,
Sem nenhuma inibição.

Dizem que os poetas,
São algo cretinos,
Que não vemos a vida,
Com a sua dor actual,
Que somos irrealistas,
Que somos teimosos…
Mas não existe melhor palavra,
Para descrever um poeta,
Que aquelas letras,
Que unem o mundo,
Sem nenhuma condição,
O Amor…

segunda-feira, agosto 28

Distância


Quanto tempo bebendo da tua pele,
Quantas noites sem dormir para velar os teus sonhos,
E na distância, o teu corpo estava sempre junto ao meu.
Quantos olhares trocados,
Quantos gritos sem dor entregados.
Sim…eu sei…o tempo odeia-me….
O teu corpo se distância,
Quando te encontro,
Sinto a pele a desfazer-se,
E em teus olhos já não reflicto.
Quantas memorias da tua cama e minha…
Se elas estivessem vivas,
Como nos desejariam…
Como recordo esses momentos e tantos outros…
Os teus olhos castanhos e a tua pele puramente branca,
Quando te olhava e tocava,
Fazias-me arrepiar até ao fundo da alma.
Como não amar-te…
Como não desejar-te…
Como não…abraçar-te…
Como não sentir-me asfixiado,
Se os teus lábios não tocarem os meus…
Como posso resistir à tua distância…
Tua indiferença…
Teu desamor…

domingo, agosto 20

Voar

Navegando num mar de sangue,
Onde apenas existem almas que gritam,
O leme orienta um corpo frio,
Chegando sobre a areia negra com ondas infinitas.
Aqui, desembarcarei, aqui caminharei.

Vou subir aos montes mais altos
Feitos de corpos dos que estão descansando.
Vou subir até ao cume e não vou parar,
Bem lá no alto vou abrir as asas,
Vou voar sem rumo,
Com a visão desse horizonte infinito,
Sei que irei encontrar esse local,
Em que a minha alma se juntará com as tuas sombras
.

sábado, agosto 19

Black Night...Paredes De Coura

Chegados a Paredes de Coura, depois de dois dias de estadia em Viana Do Castelo. Em que um dia foi passado a ver a chuva a bater na janela e um outro a relembrar a fantástica culinária daquela região…e claro, sem esquecer o famoso vinho verde…eheheh!
Depois de estacionarmos o automóvel, olhámos para o céu, carregado de nuvens e decidimos apostar…levamos protecção para a chuva ou vamos à aventura? Decidimos ir à aventura, mas como mais tarde pude testemunhar…aposto sempre no lado errado...Bolas!
Ainda tivemos que percorrer uma longa distancia até á entrada do festival. Vale a pena só para apreciar a beleza do arvoredo existente nesta região. Mas durante esse percurso foi obvio que muita gente se deslocava de propósito nesse dia, apenas para ver Bauhaus. Muitas pessoas vestidas de preto, como o “Je”, alguns góticos com a face pintada que até assustavam só de olhar e muita espanholada, sim não podemos esquecer que estamos a 10 Km da fronteira com Espanha.
Depois de entrar no recinto, olhámos para os nossos pés…lama…felizmente ainda não choveu no dia de hoje….vamos esperar que o terreno melhore…mas entretanto pude apreciar o espaço que pertence ao festival, onde está montado o parque de campismo e o famoso rio Tabuão onde se pode dar uns valentes mergulhos.
Embutidos nesta paisagem é impressionante a quantidade de “tribos “ que ali existem…Punks, rockabillies, rastas, góticos, hippies…talvez possamos juntar isto tudo num grupo denominado de “cromos visuais”.
Como programado ás 18h os “Cat People” iniciaram a sua actuação. Bem!…destes espanhóis oriundos de Barcelona nada sabia e nada sei. A minha humilde opinião é que existem mais de 500 bandas em Portugal que poderiam ter feito melhor em palco. Mas compreende-se por parte da organização, apostar numa banda que pelos vistos tem muito sucesso em Espanha. As apostas têm que ser feitas e especialmente viradas para a zona Galega.


Por volta das 19h os “Shout Out Louds” oriundos da Suécia, começaram a sua actuação e sinceramente foi uma grande surpresa. Um excelente desempenho pleno de esforço, dedicação e suor, sempre acompanhados de boa musica, onde o vocalista possui uma voz muito idêntica á de Robert Smith dos The Cure. Foi notória uma banda muito “arrumada” e bem rodada nos palcos. Já agora a teclista do grupo, provocou muito sucesso entre o publico masculino…não sei porquê? ;)


A banda seguinte foi os “Maduros” por volta das 20.30h…sinceramente não os vi….estava com uma fome era a altura ideal para ir comer qualquer coisa, alem de ir à “cabine telefónica”…lol
A noite já se tinha apoderado de paredes de Coura e por volta das 22h, os !!! (chk chk chk) davam inicio á sua magnifica performance. Completamente alucinados, o vocalista da banda foi simplesmente genial, não parou um segundo, aliás foi notório que estava muito feliz…;) …razoes que talvez a ciência desconheça…lol. Possuem uma musica muito dancavel, muito vibrante, gostei.


Por volta das 23h e mais alguns minutos entraram em palco “The Cramps”. O que posso dizer deste espectáculo….divertido…com imaginação…as “personagens” desta banda fizeram-me lembrar aqueles B movies de terror. Foi engraçado que a banda fartou-se de beber vinho durante o espectáculo, cuspiam ou entornavam o vinho no palco. Aquilo já parecia uma taberna ao ar livre, só faltava os pastéis de bacalhau.

Depois de finalizada a actuação dos “The Cramps” era chegado o momento que há muito ansiava, juntamente com mais 20 mil almas….os “ Bauhaus”.
O nervosismo começa a apoderar-se de nós, a inquietude….olhamos em volta…o negro da noite…as sombras das árvores provocadas pelas luzes do palco…está criado o ambiente para o baile dos vampiros ):-[ …the black night.
Os primeiros acordes são escutados…é a loucura total…há muito tempo que não gritava tanto…talvez…desde Fevereiro….;)
As luzes do palco são geniais, onde predomina o vermelho, laranjas e o roxo e onde é colocado uma ligeira névoa para criar um ambiente sombrio e “Bela Lugosiano”.
Entretanto começa a chover, mas a chover a sério…uma chuva acompanhada com um frio de rachar….afinal tínhamos perdido a aposta…todo o mundo estava molhado….mas ninguém, e repito ninguém arredou pé de frente do palco.
Os Bauhaus iniciam o espectáculo com “Double Dare” e “In the Flat Field”. Inicialmente o som estava relativamente baixo, é então que Peter Murphy no final da segunda canção, pede para a mesa de mistura mais power e a partir desse momento o som melhorou substancialmente.
Durante todo o espectáculo, Peter Murphy, demonstrou que continua com uma voz fantástica, por momentos mesmo arrepiante, alem de ter uma presença em palco que impõe um respeito enorme.


É extremamente difícil enumerar os pontos mais altos, mas talvez escolhesse “Severence”, “Transmission” uma cover dos Joy Division e talvez o momento mais alto...“Hollow Hills”. Existem poucos momentos na nossa vida em que vale a pena passar neste mundo, porque uma sensação única apoderasse do nosso corpo que é indescritível, simplesmente fechamos os olhos e parece tal e qual, ou até melhor que um orgasmo. E isso aconteceu quando foi tocado “Hollow Hills”. Uma altura em que a chuva era fortíssima, as luzes do palco apenas deixavam observar sombras, vultos e o publico a cantar em uníssono com Peter Murphy…simplesmente fantástico…difícil de descrever por palavras o que senti naquele instante. Aqui sentiu-se toda a convicção gótica que os Bauhaus ainda preservam.
Entretanto como as coisas boas duram pouco tempo…o concerto termina em apoteose, depois de tocarem “Bela Lugosi´s Dead”.


O que posso dizer mais deste concerto? Foi muito agreste, suportar temperaturas muito baixas, chuva desde o início até ao fim. Mas tudo isto provocou um efeito de militância, uma cena de autentico cinema, tipo Twin Peaks. Depois o cenário de Paredes de Coura é único, acaba por ser um espectáculo dentro do próprio espectáculo….
Uma noite para recordar….a noite do juizo final….noite em que apetecia morder o pescoço a alguém…

Fotos do blog da Antena 3

sexta-feira, agosto 18

Jogo Subterrâneo

''Jogo Subterrâneo'' (2005) é a segunda longa-metragem do realizador Roberto Gervitz em quase 20 anos este novo filme tem origem literária, num conto do escritor argentino Julio Cortazar. Aliás, a intenção do realizador era filmar a sua história em Buenos Aires, ainda no final dos anos 1980. Dificuldades logísticas, financeiras e revisões no argumento acabaram por originar uma espera de mais de uma década, obrigaram então a transferência da acção para São Paulo. Mas isto é somente um detalhe, pois o que se vê é apenas um grande centro urbano, que poderia ser em Nova York, Paris ou Lisboa. E este é o maior mérito desta obra: seu carácter cosmopolita.
Martín (Felipe Camargo) é um pianista de bar nocturno que, durante o dia, realiza um jogo bastante próprio: sai sem destino certo pelo metro da cidade. Assim que encontra uma mulher que lhe desperte o interesse, traça, secretamente, um caminho para ela seguir. Se a sua predestinação se confirmar - algo praticamente impossível - isso serviria como indício de que aquela seria sua grande paixão, a pessoa de sua vida. No meio de um processo tão vazio quanto arriscado, ele vai se envolvendo com algumas mulheres, mas sem desenvolver nada mais profundo. Isto, é claro, até o dia que alguém irá lhe chamar tanto a atenção a ponto de fazer com que quebre as suas próprias regras, caindo, a partir de então, numa sequência de reviravoltas e descobertas que irão abalar suas convicções de tanta certeza e organização.Ana (Maria Luiza Mendonça, arrebatadora) quando entra em cena, sua presença é tão forte que tudo passará a girar ao seu redor. É uma mulher misteriosa que pouco revela de sua vida. Mas apesar do medo e da desconfiança mútua, nasce entre os dois uma paixão que irá se equilibrar no ténue fio dos segredos.
Universal, contemporâneo, ''Jogo Subterrâneo'' pode ser encarado como um desfile das condições actuais em que os relacionamentos se desenvolvem, principalmente os amorosos. Nunca sabemos o ''mundo'' que a pessoa ao nosso lado representa, e todo envolvimento é uma espécie de aposta. Gervitz consegue transmitir bem essa ideia. Dono de uma edição ágil, de uma banda sonora belíssima e de uma fotografia estudada, este filme difere do padrão tradicional, mais por não estar preocupado com mensagens ou com os anseios de uma opinião do público, mas sim em contar uma história, pura e simples.
Eu adorei…

sexta-feira, agosto 4

My Time Has Come

Dos nossos sentimentos,
O único que não é,
Verdadeiramente nosso,
É a esperança.
A esperança pertence á vida,
Essa mesma vida,
Que se defende, defendendo-se
A vida vive-se a si mesma, quer se goste ou não.


Nós passamos o tempo tratando sempre de saber o que fazer em cada instante. Nos próximos dias vou aproveitar os momentos em que temos de saber desfrutar do não saber que fazer e perder a noção do tempo e da distancia.
Pequenas mas de certeza intensas férias que vou ter para recuperar as forças…até breve.

quinta-feira, agosto 3

Swimming...

Paisagens feridas pelo tempo,
Fotografias que perdem cor,
Esquecidas numa qualquer gaveta ,
Uma pluma chorando no meu enterro,
Lágrimas de tinta inundando o coração.

Acordei,
Desnudo na minha cama,
Abraçado debaixo dos lençóis,
Ao cadáver de uma flor,
Cheirei o talo,
Como um louco,
Onde apenas me lembrei do teu nome.

Neste mar em que nado,
Onde a espuma golpeia a minha pele.
Descubro o teu reflexo nas sombras da água,
E desapareces entre sorrisos.

terça-feira, agosto 1

Nothing Lasts Forever


Senti que me observava de longe durante alguns minutos. (…)
Aproximou-se a passos largos e começou a beijar-me, tal como eu esperava que o fizesse há um século. (…)
Aproveitei a proximidade para o cheirar disfarçadamente, identificando assim o odor do meu par. Compreendi nesse momento porque razão desde a primeira vez julguei tê-lo conhecido antes. No fim de contas, tudo se reduzia ao facto elementar de ter encontrado o meu homem, depois de tanto andar á sua procura por todo o lado. Parece que ele teve a mesma sensação e possivelmente chegou a uma conclusão semelhante, ainda que com algumas reservas. Continuámos a acariciar-nos e a sussurrar essas palavras que só os novos amantes se atrevem a pronunciar porque ainda estão imunes aos preconceitos do ridículo. (…)
Entrámos num quarto amplo, com uma lareira acesa com lenhos de espinheiro e uma cama alta, coberta com o edredão mais arejado do mundo e por um mosquiteiro que pendia do tecto, branco como um véu de noiva. Naquela noite e em todas as que lhe seguiram, retouçámos com um ardor interminável até que as madeiras da casa adquiriram o brilho refulgente do ouro.
E depois amámo-nos simplesmente durante um tempo prudente, até que o amor se foi desgastando e se desfez em fiapos. (…)
Talvez tenhamos tido a sorte de encontrar um amor excepcional e eu não tivesse a necessidade de o inventar, mas apenas vesti-lo de gala para que perdurasse na memória, de acordo com o princípio de que é possível construir a realidade à medida das próprias apetências.

Eva Luna – Isabel Allende