quinta-feira, agosto 31

Fumo

Vais. Vens. Estás…
Cortina de fumo que envolve minha razão,
Névoa que flutua em meus delírios.
E os eleva, sacode e afugenta.

Fumo de fósforo,
Subtil, ligeiro, translúcido,
Que apenas criado se perde num sopro,
De forma carente, tamanho e cor.
De contornos dispersados,
Pensamentos evasivos,
Desejos espantados.

Discreto fumo de fogueira nocturna,
Que cobiçado pela luz da sua chama,
Vagueia aquecendo a bruma,
Até se misturar com o ar que respiro,
Para deixar rasto em meus pulmões.
Fumo transitório, passageiro,
Desvanecido perante a luz do dia.

Fumo que queima restolho, palha seca e trapos velhos.
Desmedido, singular pelo seu odor,
Envolvente na sua espessura.
Fumo inevitável e previsível,
Hipóteses de uma nova estação.

O contaminante fumo da industria,
Crescido, enroscado,
Qual larva em estado latente.
Perturbador, ameaçador lá no alto.
Poderosa coluna densa e opaca,
Partindo em dois a paisagem,
Enegrecendo um pedaço,
Para ressaltar o azul do céu.

Fumo daninho que anseio respirar,
Como adito convicto ao tabaco que nunca fumei.
Angustioso, asfixiante,
Inextinguível fumo que flutua,
Que está, que vem e que vai…

Maldito fumo que se estanca na garganta,
Molesto, cobrindo-me os olhos,
Absorvendo lágrimas que escorrem,
Incapazes de sufocar este incêndio provocado.
O fumo que anuncia cinzas,
O que dança entre brasas inertes,
Até que o dispersa a brisa.
O que desliza por entre ramos queimados,
Consumidos, devorados…

Fumo…
Vapor aromático que se introduz na minha pele,
Complemento etéreo que decora minha alma.

7 Comments:

Blogger Sea said...

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12:48  
Blogger Sea said...

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12:50  
Anonymous Anónimo said...

Relaxadamente li as tuas escritas, a música ajudou.

(Poema que fuma ervas indogénas, criadas por ti...)
Esse fumo parece envolver alguém, esconder uma outra "alma"...Ou então é uma mero momento mórbido, momentaneamente solitário, por entre livros e cigarros apagados (embora digas :"[...]ao tabaco que nunca fumei[...]")
.
Mas uma coisa é certa - pensamentos elevam-te, quando inalas esse fumo invisível, será metáfora de pessoa?...

14:15  
Anonymous Anónimo said...

A música que nasce da "tua casa" que partilho algures nas minhas prateleiras também fazem a valsa dos elemntos que se espelham nas tuas palavras bruxulear entre os instantes do dia e da noite...belas palavras que partem do exterior real cruel cinzento para o peso interior da alma que pode estar carregada do cinza brutal da exaustão do quotidiano...
E procura-se o tempo das palavras em que a antiguidade era sinónimo da beleza de outros tempos...

Beijos pendurados aqui da Teia recém-chegada...a ler-te com toda a atenção.

20:09  
Blogger Taliesin said...

Há pouco tempo a Su disse-me que o reconhecimento que está por detrás das palavras é obscuro muitas vezes...não tenho a menor duvida...mas no meio dessa obscuridade...este poema como todos os outros são palavras cheias de sentimentos e emoções, onde são gerados num leitor e ele crê num prazer estético ao lê-lo...são vozes que chegam da alma com vontade de descobrir caminhos inalcançáveis. São feridas e cicatrizes da furiosa batalha no interior da alma cansada deste quotidiano...

Só espero que os poemas não tragam quaisquer efeitos secundários devido a este fumo provocado pelas ervas...
Esta musica....é uma das músicas da minha vida...sem querer falar no fantástico filme de Jean Pierre Jeuneut...Amelie....

Kisses

03:12  
Anonymous Anónimo said...

...de facto para além da fantástica música...O Fantástico Mundo de Amélie é um filme adorável. Gostava que as coisas acontecessem na minha vida com o sentido mágico que ali vão acontecendo...como uma verdadeira rota de pistas para um caminho com sentido.

: )

10:04  
Blogger Sea said...

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10:16  

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