Nothing Lasts Forever
Senti que me observava de longe durante alguns minutos. (…)
Aproximou-se a passos largos e começou a beijar-me, tal como eu esperava que o fizesse há um século. (…)
Aproveitei a proximidade para o cheirar disfarçadamente, identificando assim o odor do meu par. Compreendi nesse momento porque razão desde a primeira vez julguei tê-lo conhecido antes. No fim de contas, tudo se reduzia ao facto elementar de ter encontrado o meu homem, depois de tanto andar á sua procura por todo o lado. Parece que ele teve a mesma sensação e possivelmente chegou a uma conclusão semelhante, ainda que com algumas reservas. Continuámos a acariciar-nos e a sussurrar essas palavras que só os novos amantes se atrevem a pronunciar porque ainda estão imunes aos preconceitos do ridículo. (…)
Entrámos num quarto amplo, com uma lareira acesa com lenhos de espinheiro e uma cama alta, coberta com o edredão mais arejado do mundo e por um mosquiteiro que pendia do tecto, branco como um véu de noiva. Naquela noite e em todas as que lhe seguiram, retouçámos com um ardor interminável até que as madeiras da casa adquiriram o brilho refulgente do ouro.
E depois amámo-nos simplesmente durante um tempo prudente, até que o amor se foi desgastando e se desfez em fiapos. (…)
Talvez tenhamos tido a sorte de encontrar um amor excepcional e eu não tivesse a necessidade de o inventar, mas apenas vesti-lo de gala para que perdurasse na memória, de acordo com o princípio de que é possível construir a realidade à medida das próprias apetências.
Eva Luna – Isabel Allende
Aproximou-se a passos largos e começou a beijar-me, tal como eu esperava que o fizesse há um século. (…)
Aproveitei a proximidade para o cheirar disfarçadamente, identificando assim o odor do meu par. Compreendi nesse momento porque razão desde a primeira vez julguei tê-lo conhecido antes. No fim de contas, tudo se reduzia ao facto elementar de ter encontrado o meu homem, depois de tanto andar á sua procura por todo o lado. Parece que ele teve a mesma sensação e possivelmente chegou a uma conclusão semelhante, ainda que com algumas reservas. Continuámos a acariciar-nos e a sussurrar essas palavras que só os novos amantes se atrevem a pronunciar porque ainda estão imunes aos preconceitos do ridículo. (…)
Entrámos num quarto amplo, com uma lareira acesa com lenhos de espinheiro e uma cama alta, coberta com o edredão mais arejado do mundo e por um mosquiteiro que pendia do tecto, branco como um véu de noiva. Naquela noite e em todas as que lhe seguiram, retouçámos com um ardor interminável até que as madeiras da casa adquiriram o brilho refulgente do ouro.
E depois amámo-nos simplesmente durante um tempo prudente, até que o amor se foi desgastando e se desfez em fiapos. (…)
Talvez tenhamos tido a sorte de encontrar um amor excepcional e eu não tivesse a necessidade de o inventar, mas apenas vesti-lo de gala para que perdurasse na memória, de acordo com o princípio de que é possível construir a realidade à medida das próprias apetências.
Eva Luna – Isabel Allende
2 Comments:
este não percebi... mas tb, já ando demasiado cansada para atingir alguma coisa.
Kisses
O título do post fez-me lembrar o tema Nothing Else Matters dos Metallica...pela sonoridade gráfica dos títulos de ambos.
Há amores que são intemporias e resistem à memória do tempo pelo sabor que deixam nas paredes do coração.
Construir a realidade de acordo com as nossas apetências...precisamos de "pontes", ligar o que queremos com o que podemos ter...curiosamente, o poema que coloquei em tópico hoje na Teia fala nisso...
"Viver não só na memória, pois as sementes viajaram muito longe e voltamos a surgir de novo em outro lugar."...que assim seja e tudo terá sempre sentido!
Bjs.
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