Chegados a Paredes de Coura, depois de dois dias de estadia em Viana Do Castelo. Em que um dia foi passado a ver a chuva a bater na janela e um outro a relembrar a fantástica culinária daquela região…e claro, sem esquecer o famoso vinho verde…eheheh!
Depois de estacionarmos o automóvel, olhámos para o céu, carregado de nuvens e decidimos apostar…levamos protecção para a chuva ou vamos à aventura? Decidimos ir à aventura, mas como mais tarde pude testemunhar…aposto sempre no lado errado...Bolas!
Ainda tivemos que percorrer uma longa distancia até á entrada do festival. Vale a pena só para apreciar a beleza do arvoredo existente nesta região. Mas durante esse percurso foi obvio que muita gente se deslocava de propósito nesse dia, apenas para ver Bauhaus. Muitas pessoas vestidas de preto, como o “Je”, alguns góticos com a face pintada que até assustavam só de olhar e muita espanholada, sim não podemos esquecer que estamos a 10 Km da fronteira com Espanha.
Depois de entrar no recinto, olhámos para os nossos pés…lama…felizmente ainda não choveu no dia de hoje….vamos esperar que o terreno melhore…mas entretanto pude apreciar o espaço que pertence ao festival, onde está montado o parque de campismo e o famoso rio Tabuão onde se pode dar uns valentes mergulhos.
Embutidos nesta paisagem é impressionante a quantidade de “tribos “ que ali existem…Punks, rockabillies, rastas, góticos, hippies…talvez possamos juntar isto tudo num grupo denominado de “cromos visuais”.
Como programado ás 18h os “Cat People” iniciaram a sua actuação. Bem!…destes espanhóis oriundos de Barcelona nada sabia e nada sei. A minha humilde opinião é que existem mais de 500 bandas em Portugal que poderiam ter feito melhor em palco. Mas compreende-se por parte da organização, apostar numa banda que pelos vistos tem muito sucesso em Espanha. As apostas têm que ser feitas e especialmente viradas para a zona Galega.
Por volta das 19h os “Shout Out Louds” oriundos da Suécia, começaram a sua actuação e sinceramente foi uma grande surpresa. Um excelente desempenho pleno de esforço, dedicação e suor, sempre acompanhados de boa musica, onde o vocalista possui uma voz muito idêntica á de Robert Smith dos The Cure. Foi notória uma banda muito “arrumada” e bem rodada nos palcos. Já agora a teclista do grupo, provocou muito sucesso entre o publico masculino…não sei porquê? ;)
A banda seguinte foi os “Maduros” por volta das 20.30h…sinceramente não os vi….estava com uma fome era a altura ideal para ir comer qualquer coisa, alem de ir à “cabine telefónica”…lol
A noite já se tinha apoderado de paredes de Coura e por volta das 22h, os !!! (chk chk chk) davam inicio á sua magnifica performance. Completamente alucinados, o vocalista da banda foi simplesmente genial, não parou um segundo, aliás foi notório que estava muito feliz…;) …razoes que talvez a ciência desconheça…lol. Possuem uma musica muito dancavel, muito vibrante, gostei.
Por volta das 23h e mais alguns minutos entraram em palco “The Cramps”. O que posso dizer deste espectáculo….divertido…com imaginação…as “personagens” desta banda fizeram-me lembrar aqueles B movies de terror. Foi engraçado que a banda fartou-se de beber vinho durante o espectáculo, cuspiam ou entornavam o vinho no palco. Aquilo já parecia uma taberna ao ar livre, só faltava os pastéis de bacalhau.
Depois de finalizada a actuação dos “The Cramps” era chegado o momento que há muito ansiava, juntamente com mais 20 mil almas….os “ Bauhaus”.
O nervosismo começa a apoderar-se de nós, a inquietude….olhamos em volta…o negro da noite…as sombras das árvores provocadas pelas luzes do palco…está criado o ambiente para o baile dos vampiros ):-[ …the black night.
Os primeiros acordes são escutados…é a loucura total…há muito tempo que não gritava tanto…talvez…desde Fevereiro….;)
As luzes do palco são geniais, onde predomina o vermelho, laranjas e o roxo e onde é colocado uma ligeira névoa para criar um ambiente sombrio e “Bela Lugosiano”.
Entretanto começa a chover, mas a chover a sério…uma chuva acompanhada com um frio de rachar….afinal tínhamos perdido a aposta…todo o mundo estava molhado….mas ninguém, e repito ninguém arredou pé de frente do palco.
Os Bauhaus iniciam o espectáculo com “Double Dare” e “In the Flat Field”. Inicialmente o som estava relativamente baixo, é então que Peter Murphy no final da segunda canção, pede para a mesa de mistura mais power e a partir desse momento o som melhorou substancialmente.
Durante todo o espectáculo, Peter Murphy, demonstrou que continua com uma voz fantástica, por momentos mesmo arrepiante, alem de ter uma presença em palco que impõe um respeito enorme.
É extremamente difícil enumerar os pontos mais altos, mas talvez escolhesse “Severence”, “Transmission” uma cover dos Joy Division e talvez o momento mais alto...“Hollow Hills”. Existem poucos momentos na nossa vida em que vale a pena passar neste mundo, porque uma sensação única apoderasse do nosso corpo que é indescritível, simplesmente fechamos os olhos e parece tal e qual, ou até melhor que um orgasmo. E isso aconteceu quando foi tocado “Hollow Hills”. Uma altura em que a chuva era fortíssima, as luzes do palco apenas deixavam observar sombras, vultos e o publico a cantar em uníssono com Peter Murphy…simplesmente fantástico…difícil de descrever por palavras o que senti naquele instante. Aqui sentiu-se toda a convicção gótica que os Bauhaus ainda preservam.
Entretanto como as coisas boas duram pouco tempo…o concerto termina em apoteose, depois de tocarem “Bela Lugosi´s Dead”.
O que posso dizer mais deste concerto? Foi muito agreste, suportar temperaturas muito baixas, chuva desde o início até ao fim. Mas tudo isto provocou um efeito de militância, uma cena de autentico cinema, tipo Twin Peaks. Depois o cenário de Paredes de Coura é único, acaba por ser um espectáculo dentro do próprio espectáculo….
Uma noite para recordar….a noite do juizo final….noite em que apetecia morder o pescoço a alguém…
Fotos do blog da Antena 3