sexta-feira, setembro 22

Outono


O Outono é um peão do Inverno,
Chega e reparte cartas,
Desnuda as árvores e os sentimentos,
Veste de cinzento a imagem momentânea,
Do poente e, no fardo descaído das tardes,
Fulmina as folhas, que planeiam, rendidas,
Como aparições sem volume,
Incumbidas de designar,
O gesto intolerável de uma impotência e uma derrota.

Nos decepcionará a primeira imagem,
Do ignóbil que oferece,
O Outono é unicamente um peão do Inverno.

As minhas estações são aqui, na minha ilha,
O mito do idêntico: “um eterno verão”,
E o Outono é o cinzento.
O leito pródigo das folhas,
A larguíssima soma de uma tristeza,
Mais além do espaço em que habitas,
Á distancia de um pensamento.

Enquanto no Verão tudo é inocente,
No Outono tudo é sombrio,
Também, não se anuncia cerimonialmente,
Como a primavera que surge simplesmente,
Deixando-nos instalados na perplexidade de que o tempo se desvaneça.

Não se pode duvidar que o Outono,
Possui o mais assombroso poder de transformação,
Figura inteligente que altera,
A natureza, o homem e a mulher,
Move sentimentos, arranca amores,
E nos deixa desnudos diante o frio da solidão.

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

" O gesto intolerável de uma impotência..." que antes do cinzento preconizado, veste as árvores e o leito da terra de castanhos, vermelhos e de laranjas, como se o próprio Sol desmaiasse na terra, apaixonado, num beijo de despedida na pela que arrefece pois recebe o vento Norte.
A rendição de mais uma estação que adivinha a vitória de outra. Compasso de espera entre os espaços que habitamos. Tudo se move conforme os desígnios da Roda. Quem a gira, agora a figura da Mãe, traz as vestes necessárias para não deixar as almas nuas perante o frio da solidão. É essa a grande cerimónia da vida: aceitá-la como é, sempre foi e sempre será. A clareza dentro do mistério.
O mistério na própria Vida.

xxx

Lindo.

Um beijo outonal.

16:55  
Blogger Sea said...

Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

17:03  

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