terça-feira, setembro 5

Baraka


“Baraka” é um filme documentário, onde o objectivo básico assenta numa reflexão sobre o futuro do mundo com base no reconhecimento de tesouros espirituais das culturas ancestrais, para contrariar a depredação humana contemporânea que, pouco a pouco, vai destruindo o planeta.
Sem estar certo dos gostos das pessoas e incluso aqueles que directamente se negam a interessar-se por documentários…tenho muita pena, mas perdem um fantástico documentário que nos ensina algo sobre o nosso mundo, de uma maneira tão global, directa e apelativa que não apenas produz um deleite de quem assiste, bem como somos obrigados a reflectir sobre o significado do titulo da película.
“Baraka” é uma anciã palavra Sufi, que pode ser traduzida como “Bênção, ou respirar, ou a essência da vida desde o despoletar processo de evolução”.

“Baraka” é uma visão do mundo e ao mesmo tempo uma reflexão sobre esse mesmo mundo.
Exibe a natureza na sua mais espectacular expressão. Recantos inapeláveis de maravilhosos que se apresentam: Selvas tropicais virgens, degelo da neve dos Himalaias Tibetanos, vulcões latentes, desertos tão abstractos como extensos e arquitectónicos…mas também nos mostra algo dos que vivem nesses locais, e fala também dos que lá viveram.

A linguagem que empreende é simples, e por vezes complicada. É simples nas suas formas devido a utilizar apenas dois elementos: A imagem e a musica.
Complexo, porque emprega com uma tal mestria a beleza das imagens.
As imagens são de uma perfeição arrebatadora, conseguem penetrar na alma, deixando-nos em trance e hipnotizados pela sua sucessão que estão perfeitamente integradas na banda sonora. A musica para este filme foi composta por Brendan Perry e Lisa Gerrard dos Dead Can Dance, portanto podem compreender a dimensão sonora desta película.
O truque desta incrível fotografia é a visão que o realizador utiliza: A natureza majestosa, que retrata de uma forma imensa, viva, colorida, espectacular…visão que comparte de forma paralela ao mostrar o colosso civilizacional que o homem construiu.

Apenas neste contraste radical conseguimos sentir a artificialidade do mundo que criamos, mas também o dano, o natural…aquele que sempre esteve presente e que consegue produzir, aquilo que são das maiores maravilhas do planeta.
Cada sequência é finalizada com um plano em silêncio durante alguns segundos dos protagonistas destes contextos: o inquietante olhar de um macaco no estranho mundo que o rodeia, o doloroso olhar de um nativo da Amazónia. As colegiais vestidas com os seus uniformes no meio de uma civilização confusa e populosa no metro do Japão.

A visão emotiva do realizador resulta no momento de destacar o homem como o único ser espiritual que habita na terra, efectuando um belo périplo pelas diversas religiões e ritos que habitam o planeta e as belezas que a partir dela chegamos. E é aqui que parte a ultima e quem sabe a mais inquietante reflexão, desde as imagens das antigas ruínas religiosas, como os templos Cambojanos no meio da selva, as antigas pirâmides Egípcias no deserto, templos nas margens do rio Ganges, os resquícios dos maravilhosos antigos templos persas.
Quem sabe se o homem num determinado momento da sua historia, deixou para trás a harmonia entre ele, a sua espiritualidade e a natureza.
“Baraka” é um documentário, que todo o ser racional do planeta deveria assistir, ou melhor, é uma reflexão mais elevada mais elevada do moral, que todo o ser racional deveria obrigatoriamente de resolver.
É também ao mesmo tempo uma viagem de descobrimentos em que se submerge na natureza, na história e no espírito humano, e finalmente no reino do infinito.
Por sua vez “Baraka” é uma certa interpretação do celebre pensamento que o professor e escritor Joseph Campbell escreveu no livro “O Poder Do Mito”, em que o único mito sobre o qual vale a pena pensar é referente à relação intemporal entre o ser humano e o planeta.

4 Comments:

Anonymous Anónimo said...

...bem...conseguiste convencer ainda mais os mais cépticos de certeza quanto a esta questão de filme documentário. Antes de ir de férias (que é como quem diz!) coloquei na minha lista este "filme" como mais um a ver assim que chegasse. Ainda não fui ao cinema...
Mas este flme tem um óptimo "advogado" na tua pessoa e espero vê-lo em breve...ainda para amis com uma BSO dessas...Dead Can Dance é uma coisa "do outro mundo"!.

: )

Muito bem escrito.

Beijos aqui da Teia.

10:03  
Blogger Taliesin said...

Sinceramente não tenho conhecimento que este filme esteja no cinema, visto ser de 92, mas como esta película é extremamente actual no contexto relação homem/natureza...é natural que façam algumas exibições deste filme algures....
Não podemos esquecer que neste ano, Ron Fricke, vai estrear a sequela de Baraka e tem por nome Samsara...estou ansioso por ver...
Dead Can Dance…são algo de extraordinário…são poucas as musicas que me fazem ficar horas a fio a olhar para o céu de uma noite estrelada ou simplesmente ver a chuva a cair….e estes “senhores” possuem esse poder…
Beijos aqui da "Casa"

01:04  
Blogger Lilis said...

Excelente Doc. ... adorei! bju

17:26  
Anonymous Anónimo said...

Agora que já vi e que já percebi que de facto não podia estar no cinema...senão terida dado no momento logo conta!!
Obrigado por me teres "deixado" conhecer este fabuloso testemunho. O filme leva-nos a uma espécie de êtaxse com o seu início profundamente de sentido religioso, nas diferentes maneiras de manifestar essa mesma religiosidade, depois as paisagens naturais, os costumes ancestrais...e de repente a brutalidade do Homem superir dito "civilizado" que se contrapõe a tudo anterior com o padronizado, mecanizado, insensibilizado, pelo poder da guerra e do medo e da destruição...entre algumas destas manifestações evidencia-se a morte que domina tudo realmente, a Natureza capaz de se apoderar de uma cidade antiquìssima...
O som deste filme é excepcional...mas não tem só DCD, pois não?! Parecia-me Anaguma tb...

Um beijo destes ecos de passado...onde as tuas palavras eram outras... e as minhas agora...

SJ

08:18  

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