quinta-feira, fevereiro 16

Sombra


Tudo está na penumbra.
No fundo do teu quarto uma sombra abandona um canto e aproxima-se lentamente.
A sombra observa-te, parece um sonho por instantes, impaciente.
A silhueta escura aproxima-se da tua face e respira o teu perfume, rouba o teu alento, hipnotiza a tua alma de tal forma que exala um sonho tranquilo e seguro.
A sombra toca com a sua mão negra nos teus seios, tu sentes a carícia, macia.
Tu queres abrir os olhos, mas velozmente outra mão impede o teu intuito, ameaçando-te a sentir, sem ver, o seu corpo convertido num desejo negro.
A sombra te sussurra “Estou aqui, finalmente no teu leito”, ficas sem palavras, porque a conheces, porque a esperavas na penumbra das tuas infinitas madrugadas.
Seu ser etéreo se coloca sobre ti e escutas, distante, seu suspiro ofegante como um eco das sensações mil vezes evocadas.
Suspiras também ao sentir suas carícias.
No teu peito borboletas negras voam próximas dos teus seios, entusiasmadas.
As borboletas descendem e se convertem em ganchos que te despem.
A sombra presencia a forma do teu corpo e diz “Tu és a eleita, serás tu a eterna perfeita”.
Com os dedos negros, percorre o tremor das tuas pernas, quase que não podes sentir e logo se aproxima a manga da sua capa negra, onde está guardado todo o seu desejo.
Com a boca sedenta, coloca os seus lábios a tua mercê e sentes a saliva, a língua e o seu quente alento.
Um novo sussurro escutas “Faz, termina de invadir o meu corpo como invadiste a minha alma”.
Não consegues suster e as lágrimas derramadas se erguem como uma promessa de amor perpétuo.
A voz obscura dá uma gargalhada de satisfação.
Depois de te beijar com longas e continuas ânsias, repete o sussurrar “Estou aqui, sempre aqui, ao pé de ti, podes não me ver, mas nunca te vou abandonar”.