quinta-feira, junho 1

Le Temps Qui Reste

Este ano no 3º Festival Internacional de Cinema Independente (Indie Lisboa) tive a oportunidade de assistir a um filme de um dos realizadores que compõem o meu lote de indispensáveis. Depois de “Swimming Pool e “8 Femmes”, Fançois Ozon retorna com o filme “Le Temps Qui Reste”. Esta película é a segunda parte de uma trilogia que Ozon intenta efectuar sobre o lamento. Esta trilogia iniciou-se em 2000 com o impressionante filme “Sous Le Sable”.
Pois é, mas ontem revi novamente o filme. Sinceramente não sou um grande apreciador de visualizar filmes mais do que uma vez, mas visto que andei a divulgar por algumas pessoas que não deveriam perder este filme e como um amigo não queria ir ao cinema sozinho…Ok!..lá fui a acompanhá-lo e não me arrependo, porque desta vez reparei mais em alguns pormenores de realização que me tinham escapado na primeira observação.
A música minimalista, a intenção de captar os rostos das personagens, especialmente os olhos, as cenas finais que voltam ao início do filme, tudo isto é típico em Ozon. Mas apesar da visível direcção, o realizador continua tematicamente enigmático como sempre, preferindo deixar os espectadores tirarem as suas próprias conclusões. “Qual é a situação?” pergunta Romain , enfrentando as ultimas questões da vida. Um filme de Ozon nunca nos explica, mas certamente que nos dá um espaço criativo para pensar e qual de nós não necessita disto?
Mais um filme Francês que fala sobre a morte e tudo o que a rodeia que inicialmente pode não ser muito apelativo, mas vale qualquer esforço para o visualizar, porque é mais uma obra-prima poderosa e recompensadora de François Ozon. Impressionante em todos os aspectos.
Aproveitem em quanto está em exibição (infelizmente apenas está em exibição num cinema e em Lisboa). Entretanto deixo um texto que encontrei no site C7nema, o qual faz uma excelente critica sobre o filme.

Romain é um fotógrafo nos seus 30 anos que durante uma sessão de fotografias acaba por colapsar e descobre posteriormente que tem um tumor com probabilidades bastante baixas de cura. Romain recusa desde logo recorrer à quimioterapia, e decide alienar-se das pessoas mais próximas dele (a família e o namorado), com excepção da sua avó, com a qual partilha uma relação bastante próxima – e a conexão entre os dois é ainda maior agora que lhe resta pouco tempo para viver...

Esta sinopse talvez não seja a melhor maneira de convencer pessoas a ir ver este “Le Temps Qui Reste”. Mais um filme em que o protagonista sofre de uma doença terminal? Deixe-me adivinhar… está com receio que seja mais um daqueles “casos da vida” – dramalhões que costuma(va)m passar na TVI e que desejam estimular à força bruta os vasos lacrimais do espectador recorrendo a técnicas baratas de manipulação. É óbvio que ainda não conhece o realizador francês François Ozon … ou então não sabia que este era o seu novo filme.

O tema até pode ser bastante familiar, mas a sensibilidade (e realismo) que Ozon traz ao filme transforma-o num objecto tão único que será ridículo pensar sequer em falta de originalidade ou algo parecido depois do visionamento da película. Ozon volta a imprimir o seu cunho pessoal, evitando tácticas baixas de manipulação a todo o custo e atingindo todos os pontos certos numa história que poderia muito facilmente dar para o torto (i.e., tornar-se completamente lamechas), mas que acaba por se tornar numa das mais brutalmente honestas reflexões sobre a vida humana transpostas para o grande ecrã.

Para isso, o realizador e argumentista conta com a ajuda de um naipe de actores muitíssimo bem escolhidos e com performances altamente naturalistas, desde um assombroso e magnético Melvil Poupaud no papel de Romain até à sensacional Jeanne Moreau no papel de avó, que com apenas alguns minutos conseguirá (assim como o protagonista) conquistar o coração do espectador mais cínico – ou então é você que precisa de ir ao médico.

Desde os primeiros minutos que sabemos que o destino da personagem principal não vai ser o mais feliz, mas mesmo no desfecho da película, Ozon recusa-se a dar o que o espectador mais telenovelesco mais queria, ficando-se por algo mais marcante e inesquecível. Os planos finais, contendo uma das marcas características do realizador, são apenas a machadada final de um filme que fica connosco muito tempo após os créditos finais. Imperdível. André Gonçalves in C7nema

7 Comments:

Blogger Sea said...

Parece-me um filme a ter em conta. Gosto de filmes que primam pelo realismo, a não recorrência à lamechice mas, ainda assim, de uma sensibilidade extrema. Aquilo que fica quando a imagem se fecha na tela.
Faz-me lembrar o "Mar Adentro". Não tenho pudoe em dizer que chorei. Chorei copiosamente. Felizmente estava em casa.
E são nestes momentos que os filmes nos marcam.
Um beijo :)

10:07  
Blogger Taliesin said...

Pois...isto de facto pode suceder ao público que lê a sinopse deste filme, em compará-lo com "Mar adentro"...mas sinceramente nada tem a haver um com o outro, embora os dois se refiram à morte, uma desejada, a outra por infortúnio da vida. Tb não podemos esquecer que os realizadores são muito diferentes, por um lado Amenabar, o outro Ozon, algumas vezes polémico e extremamente filosófico.
Em relação a "Mar adentro" tb tive a "felicidade" de o visualizar em casa...bem chorei imenso, acho que um pacote de lenços não foi o suficiente...
Com "Le temps qui Reste" não pode exprimir os meus sentimentos da maneira como me apetecia...a primeira vez que o vi, apenas surgiu uma lagrimazinhas ao canto do olho, durante o filme, mas ontem tive que fazer um esforço enorme para não chorar compulsivamente no cinema...então na parte final do filme, é obvio que não posso contar, mas a forma como Ozon filmou a morte, é simplesmente genial, poético, como a morte pode ser bonita...
Beijinho

11:46  
Blogger Sea said...

hum... acho melhor vê-lo em casa...
Faço de Maria Madalena no cinema ou saio de lá com um nó na garganta...
beijo

11:49  
Blogger Taliesin said...

Deixa lá! De certeza que não és a unica Maria Madalena...No final do filme a grande maioria do pessoal dirigiu-se todo para a casa de banho para enxogar as lagrimas e eu não fiu excepção...lembro-me perfeitamente de uma senhora já de uma certa idade que chorava bastante...é como se diz...aquele que não chora não tem coração...
Beso

01:53  
Blogger Sea said...

E o coração chora tantas vezes em silêncio, na solidão...
BEso

11:22  
Blogger Taliesin said...

Embora a solidão nos prive do melhor que a vida tem...o Amor...mas a solidão é um engenho da natureza que faz com que nos encontremos com nós mesmos para poder valorizar os demais...
Kisses

13:09  
Anonymous Anónimo said...

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09:41  

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