terça-feira, maio 30

Cidade Baixa

Uma das maiores riquezas exportáveis que tem origem no Brasil é o seu actual cinema, e isso deve-se ás imensas diversidades culturais e geográficas deste País.
Não podemos esquecer as obras-primas originárias de vários realizadores brasileiros que ultimamente nos têm proporcionado “bombas” cinematográficas, por exemplo, "Cidade de Deus", "Central do Brasil", "Abril Despedaçado", "Bicho de 7 cabeças", entre outros. Todos eles óptimos, mas tão diferentes uns dos outros quanto possível em linguagem, temática e ambiente.
Outrora assistente de Walter Salles (Diários de Motocicleta), o realizador de “Cidade Baixa”, Sérgio Machado, teve uma estreia auspiciosa com um dos filmes mais sexys dos últimos tempos. Mantendo a câmara em constante movimento, esta influência deve muito aos seus contemporâneos latinos, Iñarritu (Amores Perros) e Fernando Meirelles (Cidade de Deus), dirige um filme que nos apresenta uma região de Salvador da Bahia que se torna uma verdadeira personagem da historia, influenciando as atitudes dos protagonistas de maneira inegável. Sérgio Machado criou uma atmosfera nervosa que se torna ainda mais tensa graças ao carácter opressor assumido pelo ambiente no qual as personagens estão inseridas. Trata-se de um mundo de miséria, sem esperanças, constituído por casas e prédios com paredes sujas e descascadas que reflectem a falta de perspectivas de um futuro melhor para aquelas pessoas. Onde vivem a par com droga, prostituição, roubos, suicídios e apostas em jogos clandestinos. O título “Cidade Baixa” tem origem numa zona portuária da cidade da Bahia, onde vários pescadores e comerciantes vão em busca de serviços sexuais de prostitutas. Também é importante referir que o realizador permaneceu durante vários meses pesquisando e filmando habitantes da Bahia e assim trazer ao ecrã, os rostos das pessoas, enriquecendo o projecto, tornando-o ainda mais autêntico.

O filme gira em torno de Deco (Lázaro Ramos) e Naldinho (Wagner Moura), dois amigos de infância que trabalham juntos transportando cargas no seu pequeno barco. Certo dia, eles oferecem uma boleia para Karinna (Alice Braga), uma prostituta tipo pé-de-chinelo que aceita fazer sexo com os dois em troca do transporte e de pouco dinheiro. Ainda assim, Deco deixa-se apaixonar pela mulher e, ao perceber que Naldinho também parece encantado (embora tente ocultar), a relação dos amigos é abalada. Aos poucos, a situação torna-se mais intensa até alcançar um patamar realmente perigoso.
Deco e Naldinho estabelecem uma dupla perfeitamente natural, Exibindo uma cumplicidade mais do que adequada à história das personagens, a dupla leva o público a acreditar naquele relacionamento e a lamentar quando este parece se desintegrar – algo que se revela inevitável, considerando-se a sensualidade do obstáculo que surge no caminho dos dois, a bela (e talentosa) Alice Braga, que já tinha encantado o inocente Buscapé (Cidade de Deus). Compreendendo a natureza humilde da prostituta Karinna, a actriz foge de qualquer vestígio de glamour, maquilhando-se em excesso e exibindo o cabelo mal pintado.

Porém, o elemento mais fascinante do trabalho de Braga reside na composição psicológica da personagem: plenamente ciente do poder que exerce sobre os dois rapazes, Karinna mal consegue ocultar o prazer que sente ao vê-los disputando a sua atenção. Sim, ela afirma que não gosta de vê-los a discutir, mas é óbvio que gosta, e muito.
O filme “Cidade Baixa” preocupa-se muito mais em abordar as relações entre os três personagens do que em desenvolver uma estrutura narrativa com enredo bem definido ou reviravoltas – as ligações entre aquelas pessoas são o centro do filme. E não é à toa que o sexo assume um papel tão importante neste contexto: em uma existência desprovida de bens materiais e distinção social, o prazer sexual adopta uma importância ainda maior, servindo como uma oportunidade rara de felicidade ou prazer momentâneos.


“Cidade Baixa” beira a perfeição no seu clímax, brindando o espectador com um final que, além de corajoso é poético e carregado de uma ironia triste, mas inevitável.
Na sua cena final, com seus planos-detalhe, aproximações e trocas de olhares, o filme resume toda a complexidade de uma situação impossível – e, por isso mesmo, impacto e riqueza do ponto de vista dramático. Uma conclusão adulta para um projecto idem.
De facto estamos perante mais uma genial obra do cinema Brasileiro e onde de certeza ficamos com Sérgio Machado debaixo de olho para o seu próximo filme.


"Os desejos estão abertos, as intenções confusas, paixão visceral, encontros em sangue, suor e lágrimas"

4 Comments:

Blogger poca said...

e vai estar no cinema ou quê?

01:23  
Blogger Taliesin said...

Supostamente vai estrear em Portugal, mas ainda não tem data marcada :(

01:34  
Blogger Taliesin said...

é verdade, mais um grande filme oriundo do Brasil...ainda há mais.."Seja o que Deus Quiser","Amarelo Manga", "Houve Uma Vez Dois Verões","Domesticas", "Pixote", "Uma Onda No Ar", "Jogo Subterraneo", "Meu Tio Matou Um Cara" e muitos mais...sinceramente sou um grande fan do cinema Sul Americano, especialmente o Brasileiro...

01:56  
Anonymous Anónimo said...

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09:41  

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