terça-feira, outubro 24

Tradições Pagãs

Os Druidas (drui em irlandês, derwydd em galês) eram videntes, com um conhecimento íntimo do mundo natural, que caminhavam entre o mundo exterior e Annwn (o mundo do Além). Podiam ser homens ou mulheres e eram xamãs, mediadores, conhecedores e detentores de sabedoria. Tinham funções tanto de sacerdotes como de juízes.Embora não haja consenso entre os estudiosos sobre a origem etimológica da palavra, druida parece provir de oak (carvalho) e wid (raiz indo-européia que significa saber). Assim, druida significaria aquele(a) que tem o conhecimento do carvalho. Reflecte-se aqui a veneração que eles dedicavam ao carvalho, simbolicamente considerado como a mais poderosa expressão de uma natureza pujante e ligada à Terra.
Na guerra eram muito bravos, mas indisciplinados na vida civil. A sua arte é notável, culminando nas iluminuras medievais irlandesas. Gostavam de jóias, cores vivas e bordados. Introduziram na Europa o uso de calça na indumentária masculina e pensa-se que inventaram o presunto e o toucinho defumado (bacon).
Segundo fontes clássicas, os Druidas eram considerados membros da nobreza. Alguns tinham um estatuto equivalente ao da aristocracia guerreira- os Equitas-, constituída pelos que, nas batalhas, montavam a cavalo ou conduziam carros de combate; por outras palavras, os Cavaleiros. Além disso, sabe-se que era permitido aos Druidas usarem seis cores nos seus tartãs, privilégio geralmente apenas reservado às rainhas. Só os reis podiam usar sete cores.
Ainda de acordo com os clássicos, os Druidas dividiam-se em videntes, profetas e bardos. Algumas correntes revivalistas do druidismo, remontando ao séc. XVIII, dividem-nos entre ordens de Bardos, Vates (ou “Ovates”) e Druidas.Portanto os Druidas da Antiguidade eram os chefes espirituais do povo celta, a quem serviam de sacerdotes, sacerdotisas, conselheiros, genealogistas e mestres.Os Druidas, enquanto celtas e europeus, foram influenciados pelas crenças espirituais das suas tribos, dos respectivos deuses tribais e dos ciclos naturais da Terra. Não era invulgar a participação de mulheres nos ritos druídicos celtas, principalmente nas suas vertentes mais próximas do xamanismo, inspiradas no culto da Natureza e das forças naturais que a regem.
A presença feminina nas ordens druidas foi-se desenvolvendo em crescendo, tendo atingido o seu auge na época anterior à ocupação romana.Os Celtas tiveram uma vida material das mais simples, um sistema económico eficaz e robusto e princípios políticos estáveis.O bom funcionamento do sistema político tradicional repousava sobre o equilíbrio perfeito, o entendimento entre o druida e o rei, sendo este oriundo da classe guerreira controlada pelos druidas.
Os druidas dominavam quase todas as áreas do conhecimento humano, cultivavam a música, a poesia, tinham notáveis conhecimentos de medicina natural, de agricultura e astronomia e possuíam um avançado sistema filosófico.
Os Druidas oficiavam as cerimónias de propiciação dos deuses e deusas e eram quase sempre, mas não exclusivamente homens.Os Druidas acreditavam na imortalidade da alma, que buscaria o seu aperfeiçoamento através de vidas sucessivas (reencarnação). Acreditavam que o homem era responsável pelo seu destino de acordo com os actos que livremente praticasse. Toda a acção era livre, mas traria uma consequência boa ou má segundo as obras praticadas.Teria ainda a ajuda dos espíritos protectores e teria a responsabilidade de passar os seus conhecimentos adiante para que as pessoas estivessem igualmente aptas a entender essa lei, conhecida hoje por lei do Karma.Os Druidas desapareceram da história à medida que crescia o domínio da igreja em Roma.
Os Celtas desapareceram porque a estrutura política e religiosa da sua sociedade era inadaptável à concepção romana do Estado. Certo mesmo é que a influência dos druidas deve ter sido considerável, pois três imperadores romanos tentaram extinguí-los por decreto como classe sacerdotal num prazo de 50 anos - sem sucesso. O primeiro foi Augusto, que impediu os druidas de obter a cidadania romana. Em seguida, Tibério baixou um decreto proibindo os druidas de exercerem suas actividades e finalmente Cláudio, em 54 d.C., extinguiu a classe sacerdotal. Certo mesmo é que, 300 anos mais tarde, os druidas ainda continuavam a ser citados por autores como Ausonio, Amiano Marcelino e Cirilo de Alexandria, como uma classe social e religiosa de extrema importância e respeitabilidade.
Tem-se uma ideia aproximada da cultura que eles teriam sido capazes de transmitir, através do último legado do mundo céltico à cristandade medieval: a literatura arturiana e a lenda do Santo Graal.

6 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Querido amigo "Druida"

Hoje, volvidos "séculos" trago-te um poema prometido ...
dos tempos modernos.

***
"Retrato"
Era uma caixa branca
Quase a cubicar
Sobre um vidro frio
E uma torre
Sob o frio vidro!
Era o meu Mundo…
Bem lá no fundo
Do cubo-quarto,
O meu refúgio!
Tu estavas lá,
Pasta secreta
Oculta,
Escondida
Tu,
Minha querida!

Tomba a noite,
Abro a Alma,
Abro-te pasta
Num simples toque
E sim…surges tu
P’la noite a dentro
Até de manhã
Enches o quarto
Na Luz de um ecran
Enches o quarto
Tu, a Lua ou Planeta,
Sempre a revolutear
Sol ébrio, escaldante
De um amanhã.

E de repente
Do tecto rasgado,
Solta-se a telha,
É o dilúvio,
É maré cheia…
São todas as lágrimas
Do Rio Vesúvio
Soltas no ar…
E sem mais
Nem então ali,
Na confusão
O computador
Explode no ar!
Nada mais resta
Do teu doce olhar!
Era um computador
Uma pasta oculta,
Eras … o Amor!"
Mel de Carvalho (mim):-)

Bjs querido amigo, que os "Duidas" e as Fadas te acompanhem para todo o sempre ...

12:54  
Anonymous Anónimo said...

Fiquei a saber muito mais sobre druidas...

...
:)

16:22  
Anonymous Anónimo said...

W. B. Yeats, poeta irlandês,considerado expoente máximo da poesia do século XX, deixou uma espécie de contributo à "questão" celta...

"A Canção do Delirante Aengus
(1899)

Eu fui para uma floresta de nogueiras, Porque a minha mente estava inquieta, Eu colhi e limpei algumas nozes,
E apanhei uma cereja, curvando o seu fino ramo;
E, quando as claras mariposas estavam voando,
Parecendo pequenas estrelas, flutuando erráticas,
Eu lancei framboesas, como gotas, num riacho
E capturei uma pequena truta prateada.
Quando eu a coloquei no chão
E fui soprar para reactivar as chamas,
Alguma coisa moveu-se e eu pude ouvir,
E, alguém chamou-me pelo meu nome:
Apareceu-me uma jovem, brilhando suavemente
Com flores de maçãs nos cabelos
Ela chamou-me pelo meu nome e correu
E desapareceu no ar, como um brilho mais forte.
Talvez eu esteja cansado de vagar em meus caminhos
Por tantas terras cheias de cavernas e colinas,
Eu vou encontrar o lugar para onde ela se foi embora,
E beijar os seus lábios e segurar as suas mãos;
Caminharemos entre coloridas folhagens,
E ficaremos juntos até o tempo do fim do tempo, colhendo
As prateadas maçãs da lua,
As douradas maçãs do sol."

xxx

Até ao tempo dos fins do tempo...as prateadas maças da lua, as douradas maças do sol, a magia de todas as palavras sopradas ao vento que regressa como ondas as almas famintas de parar de caminhar...para finalmente olhar um para o outro.

13:20  
Anonymous Anónimo said...

"Quem agora conhece a antiga linguagem da Lua? Quem agora fala com a Deusa ?... Só as pedras agora se recordam do que a Lua nos disse há muito tempo, e o que nós aprendemos com as arvores, e as vozes das ervas e dos cheiros das flores..."
(Tony Kelly, "Pagan Musings" 1970)

xxx

A palavra pagão tem uma origem rural que significa camponês. Provavelmente resta como eco deste original sentido a alma da natureza, das colheitas, das sementeiras, os ritos de passagem ou de fertilidade, as saudações, as festividades, as magias e artifícios à base da própria Natureza.
Mantém-se, desde sempre, esta procura de uma resposta que silencie um pouco a inquietação existencial; muitas vezes colmatada por uma religião qualquer que silencia a própria voz da verdade. Que não deixa ver claramente as nossas próprias raízes. O ancestral que a alma carrega dentro de si.
A Natureza toca a alma dos indivíduos e expressa-se numa linguagem própria apenas compreendida para aqueles que “despertam”...o que resulta daí, é a comunhão do próprio Eu com a Divindade em si, a experiência religiosa pessoal completa e dá sentido ao caminho que tem de se realizar.
Existem muitos caminhos dentro do Paganismo. Há quem pratique sozinho ou como membros de variados grupos. Alguns caminhos estão claramente definidos e têm uma estrutura com os seus próprios ensinamentos e outros não, mas alguns dos caminhos mais populares dentro do Paganismo são a Wicca (feitiçaria moderna), o Druidismo, e a Tradição do Norte (Escandinava e Anglo-Saxónica).
Outras tradições pagãs ressurgiram após o regresso do Paganismo, tal como a Tradição Ibérica. Provas com poder suficiente para mostrar que as religiões não dão resposta ao geral da humanidade.

São tradições os hábitos e costumes que sobreviveram até nós e até aqueles novos que passamos a "cultivar" no nosso dia-a-dia. Podemos ser um Druida todos os dias...bastando ouvir com o coração, agir com a inocência e desinteresse de uma criança, conhecendo os sentidos do mundo, com a tolerância daqueles que sabem esperar.

xxx

Excelente post, Taliesin.

: )

17:47  
Blogger Taliesin said...

Chamamos de povos Pagãos, aqueles que na Antiguidade tinham nos campos e plantações seu sustento, a base de sua vida. A Terra era, portanto, sagrada para eles. Toda a sua cultura e religião girava em torno da Natureza: a época das colheitas, as estações, os Solstícios, etc.

Muitos dos povos Pagãos eram politeístas, atribuindo aos deuses, faces da Natureza com que conviviam. Assim, havia o deus do Sol, a deusa da Lua. o deus da caça, a deusa da fertilidade, etc. Foram Pagãos os povos Gregos, Romanos e Celtas, por exemplo. Uma característica muito marcante da religião Pagã é a existência de deuses e deusas, às vezes com igual poder, e muitas vezes tendo-se a figura feminina como dominante.

Deusa divina,
A vontade de morder uns lábios,
Como mordo aquela maçã vermelha,
Tão deliciosa, tão doce.
Um Ramo de rosas,
Aroma a sedutora lua,
Que nos cobre com o seu manto de estrelas rendidas,
Até ao tempo dos fins do tempo,
Estaremos unidos com o laço do amor,
Vivendo a eternidade das nossas vidas.

Porque duas almas souberam esperar,
Pelo destino que as colocou no mesmo percurso,
de um modo singular....

Beijos.....

18:49  
Anonymous Anónimo said...

A Natureza acaba sempre por ser a origem, o ponto de dívida que nós deixamos em atraso...e mal agradecida...
Dela nasce a vida, daí ser facilmente ser atribuída desde a Antiguidade à figura feminina, portadora da capacidade de gerar. O sagrado que dá a vida. O poder místico de criar e fazer nascer.
Como o próprio poder místico que a Natureza encerra em si. A imagem predominante e representativa, por isso, é feminina ( a Grande Mãe, a Grande Deusa) mas equalitária com a presença do homem, do elemento masculino. São o encaixe perfeito e total do resultado da Vida.

; )

Um manto de estrelas rendidas que desatam o laço dos seus corpos caindo sobre os corpos imaginados das duas almas que se reencontram à luz do seu amor...

12:44  

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